quarta-feira, 26 de novembro de 2008

“Deficiência” e diferença funcional

Nossa proposta está ganhando espaço! O termo “diferença” começa a fazer parte do vocabulário de muitas pessoas que usavam naturalmente a palavra “deficiência” para se referir ao que aqui chamamos apenas de diferença.

É curioso observar como a idéia de “deficiência” como disfunção, falta ou limitação impregnou-se no senso comum. Recentemente li um scrap em que o autor insistia que “deficiência” não é um termo depreciativo. Eu tenho insistido que é depreciativo e aprendi isto no Aurélio, o mais tradicional dicionário da língua portuguesa. Quer queiramos ou não, nossa opinião e vontade não são suficientes para mudarmos o significado literal do termo “deficiência”. Mesmo quando o termo é pronunciado com carinho e respeito, seu significado é “falta”, “falha”, “carência”, “imperfeição”, “defeito”, “insuficiência” e “ineficiência”.

A título de exemplo, o significado do termo “deficiência” fica claro quando um de nós não consegue um emprego. A dificuldade de se encontrar um emprego é porque, para o mercado de trabalho, “deficiência” é “falta” de habilidade e “falta” de competência.

E quando os empregadores alegam que o ambiente não está adaptado, é porque enxergam na “deficiência”, um corpo “imperfeito”, ou um “defeito” físico que pode dificultar o desempenho do trabalhador. O mercado de trabalho (com raras e honrosas exceções) considera que somos incapazes antes mesmo de nos testar, e isto ocorre exatamente porque os termos dizem isto, independente de qualquer comprovação prévia.

Os termos “falta”, “falha”, “carência”, “imperfeição”, “defeito”, “insuficiência” e “ineficiência” funcionam como sinônimos de “deficiência”. Podemos facilmente aplicá-los aos vários segmentos da vida cotidiana e o resultado é o mesmo: a “deficiência” aparecerá como uma condição que deprecia e diminui a pessoa que apresenta tal condição.

Uma boa dica para compreendermos melhor o conceito de diversidade funcional é olharmos para o que consideramos ser uma limitação. Se uma escada me limita, o problema não é meu. E a forma de se comprovar isto é testar minha suposta limitação diante da escada, mas também longe dela. Se longe da escada não sou limitado, logo a limitação não está em mim, mas no ambiente físico. Gosto do exemplo da escada porque todo mundo já viu uma. Se as escadas fossem eliminadas – e isto é possível! – nossa limitação diante delas também seria eliminada, independente de qualquer mudança no nosso corpo.

O conceito de diversidade funcional toca exatamente em pontos como o da escada: Não sou incapaz, limitado ou ineficiente diante das escadas. Eu apenas chego ao andar de cima por outros meios. Ou seja, eu funciono de forma diferente diante de um obstáculo físico.

Meus exemplos neste e em outros posts giram muito em torno da acessibilidade ao meio físico. Quero lembrar que a idéia de diversidade funcional não se restringe à acessibilidade. Tenho usado idéias e conceitos que podem facilmente ser aplicados a qualquer diferença funcional.

Algumas vezes esperamos que a sociedade se transforme para nos receber. Isto realmente é necessário. Grande parte das limitações associadas às diferenças funcionais só existem porque são impostas pela sociedade. Então, a sociedade precisa mesmo se transformar. Mas não é somente ela que precisa mudar. Nós também precisamos mudar nossa cabecinha. Precisamos compreender que de nada adianta uma mudança externa se nós mesmos não mudarmos nossa forma de ver o mundo.
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Palavras-chave: diversidade funcional; diferença funcional; pessoas com deficiência; pessoas portadoras de deficiência; pessoas deficientes; deficiência física.

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